terça-feira, 23 de outubro de 2012

Curso de licenciatura: o desafio de formar bons professores ontem e hoje




Ana Monteiro Diretora Faculdade de Educação da UFRJ (Foto: Divulgação)







Ana Monteiro, diretora da Faculdade da Educação da UFRJ, fala sobre a evolução da formação docente e sobre a demanda urgente por qualificação.



Dados do Censo da Educação Superior de 2009, divulgados em 2011, revelaram um aumento no número de formados em cursos de licenciatura, aqueles destinados à formação de professores para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. Em 2002, foram 133 mil formandos e em 2009, 241 mil. Mas esses cursos de licenciatura formam bons profissionais? De acordo com Ana Monteiro, diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o governo ampliou o acesso à educação, mas ainda precisa resolver outros problemas.


“Como formar professores qualificados para atender a demanda, uma vez que os salários não são atrativos? Os estudantes não querem ingressar em uma carreira que perdeu o prestígio, aí se voltam para a área de pesquisa. A demanda por bons professores é urgente – para trabalhar na escola de hoje, com o aluno de hoje. Parece que só o cientista produz conhecimento, mas o professor também o faz, em outro contexto. Ele não está em um laboratório, mas em uma escola, e trabalhar com a formação de pessoas é um desafio muito complexo”, ressalta.

Para entender como funciona a licenciatura hoje, precisamos voltar ao passado. O curso de formação de professores nasceu na antiga Universidade do Brasil, atualmente UFRJ, na década de 30, na Faculdade de Filosofia. Em 1968, a Faculdade de Filosofia deixou de exercer a função de formar professores, e se criou a Faculdade de Educação, que passou a oferecer a formação de licenciatura, e os institutos de ensino. A fórmula utilizada era a chamada “3 + 1”, com o aluno tendo três anos de formação específica na área e um ano de formação pedagógica.

“O sistema de licenciatura criado na UFRJ acabou sendo copiado pelas outras universidades do país e formou uma geração de professores qualificados. Com o passar do tempo, o papel do professor e da escola foi mais e mais questionado. Percebemos também que a formação pedagógica precisava ser mais ampla. Em 2002, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou uma resolução mudando a fórmula do ‘3 + 1. O aluno já pode ingressar direto para fazer o curso de licenciatura, não é o bacharel que depois vai fazer a licenciatura. Acho que essa mudança é importante, porque valoriza a licenciatura e atende a demanda do futuro professor, que se sente mais preparado para a hora ‘h’ quando entrar na sala de aula. Muitos alunos reclamavam que não se sentiam prontos para lidar com crianças e jovens”, explica Ana.

Segundo a diretora, os cursos que já tem opção de licenciatura no vestibular são Química, Física, Matemática, Geografia, Educação Artística, Letras, História e Literatura. Após alguns períodos, os alunos podem optar pela licenciatura ou bacharelado. As disciplinas específicas de licenciatura são Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus, Didática, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Fundamentos Filosóficos da Educação e Prática de Ensino.

“O futuro professor começa a ter contato com os alunos quando faz a Prática de Ensino, uma espécie de estágio supervisionado por um professor. A prioridade é o que estágio seja feito em escolas públicas, eventualmente em colégios particulares. Em 2001, o governo determinou que o estágio deveria passar de 300 para 400 horas. Isso é importante para que a formação não seja aligeirada”, diz Ana.

De acordo com informações da Câmara de Educação Básica do CNE divulgadas em 2011, o Brasil tem um déficit de 300 mil professores, nas redes estaduais e municipais. A segunda licenciatura seria uma alternativa apontada por especialistas para minimizar esse problema, mas a diretora alerta que essa pode não ser a solução. “Muitos professores trabalham em vários lugares, porém, dar mais do que 40 horas de aula é muito complicado, acaba afetando a saúde. Eles não têm tempo para preparar as aulas, para estudar... O ideal é aumentar os salários, permitindo que os profissionais possam se dedicar exclusivamente à atividade  docente", completa.

Postado por:
Jéssica Rodrigues de Queiroz e Bruna Sonaly Diniz Bernardino
Graduandas de Licenciatura em Pedagogia - UFCG
Bolsistas do Programa de Educação Tutorial - PET

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