quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Texto Professora Fabíola V SEPPEC


Boa noite!
De início, quero agradecer ao Pet Pedagogia, na pessoa da Professora Niédja, o convite para participar dessa mesa de encerramento do V Seminário Percursos do Pensamento Educacional Contemporâneo (SePPEC) que, nessa edição, tem como tema Educação Infantil: conquistas, embates e desafios na contemporaneidade.
Quero, em princípio, destacar a relevância da discussão dessa temática no momento atual e esclarecer, de antemão, que falar das paixões e dos desafios do ser professor na Educação Infantil não se constitui em tarefa simples, especialmente para quem, embora interessado nessas questões, não vem se dedicando exclusivamente ao seu estudo. Considerando isto, esclareço que tentarei abordá-la enquanto formadora de professores para atuarem nesse âmbito. Buscarei tratar, portanto, dos desafios (e também das paixões) que, hoje, no nosso curso de Pedagogia, estão implicados na formação de professores para atuarem na Educação Infantil.
Falar sobre isso exige abordar, em princípio, quando e como a Educação Infantil foi inserida, de fato, na formação docente levada a cabo em nosso curso. Isso se deu especificamente quando houve a reformulação do nosso projeto pedagógico, ocasião em que, em virtude das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Pedagogia, publicadas em 2006, fomos impelidos, enquanto curso de formação de professores, a também formar professores para a Educação Infantil, o que não fazíamos até então, já que o curso se voltava, desde a sua criação, em 1979, a formar docentes para a atuação no que, em princípio, chamava-se de séries iniciais do primeiro grau e, mais tarde, de anos iniciais do Ensino Fundamental. Portanto, por quase três décadas, o nosso curso de Pedagogia consolidou uma história de formação centralizada na compreensão da docência nos primeiros anos do Fundamental I e, a partir das referidas Diretrizes, viu-se impulsionado a incluir, em seus objetivos e estrutura curricular, a formação do professor para a primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil.
Tal inclusão não parecia, naquele momento, tarefa fácil, como, de fato, revelou não ser. Faltava-nos lastro, uma base sobre a qual pudéssemos nos sustentar ao definir os caminhos dessa nova formação. Mas se não havia essa experiência antecedente, havia o interesse por enfrentar o novo, por dar conta do desafio de estabelecer os caminhos dessa formação e de, efetivamente concretizá-la. Nessa perspectiva, definir, por exemplo, que disciplinas inserir na estrutura curricular para promover essa formação e definir a sua ementa foi, naquele contexto, desafio significativo. Dessa forma, a inserção de componentes curriculares como Fundamentos da Educação Infantil e o atrelamento, nas disciplinas de áreas de estudos específicos, como Língua Materna e Arte, do trabalho na Educação Infantil e nos Anos Iniciaisdo Ensino Fundamental, representaram, naquele contexto, uma busca do coletivo do curso por atender à determinação legal de, enquanto curso de Pedagogia, formar também o professor para a Educação Infantil e, mais do que isso, por realizar essa formação contemplando o que, para nós, naquela circunstância, era necessário para garanti-la.
Portanto, considerar a condição pela qual a Educação Infantil passou a compor a formação docente por nós propiciada permite avaliar que ainda hoje a Educação infantil, no nosso curso, busca, efetivamente, consolidar-se, encontrando seu real espaço nesse projeto formativo. Iniciativas nesse sentido vêm sendo realizadas, a exemplo da contratação de professoras para trabalhar especificamente na área;de uma vinculação maior do curso com as creches e pré-escolas públicas do município, através de ações de estágio e de pesquisa e extensão, e também de eventos como este V SePPEC. É óbvio que outras iniciativas vêm sendo empreendidas na busca por aprimorar o inicialmente pensado e pretendido, como a reivindicação de um espaço maior das discussões específicas sobre a Educação Infantil na grade curricular do curso, demanda que certamente se concretizará na proposta de reformulação que vem sendo discutida, a fim de que se encontre, na organização de nosso currículo, um equilíbrio mais efetivo entre o voltado à Educação Infantil e o voltado aos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Ainda há, penso eu, dificuldades de muitos de nós, formadores, para inserir, de fato, a Educação infantil em nossas discussões e práticas. Em virtude disso, avalio que devemos cuidar para que a arraigada concepção de formação para o trabalho na escola fundamental não ofusque e até negue a necessidade e a premência de pensar a atuação do professor que formamos junto às crianças menores,de o a 5 anos, e de fomentar o entendimento das especificidades dessa atuação.
Nessa perspectiva, compreendo quedesse primeiro desafio, que é consolidar a Educação Infantil no projeto de formação do curso de Pedagogia, decorrem alguns outros.
O primeiro deles é formar um professor capaz de considerar e compreender o sujeito criança da Educação Infantil, o qual, muitas vezes, em virtude, por exemplo, de práticas escolares antecipatórias, focadas em rituais e obrigações típicos da escola, é negado enquanto sujeito e, também, enquanto criança. Desse modo, acredito que entender a criança de até cinco anos como ser ativo e capaz, com especificidades cognitivas e linguísticas, por exemplo, é condição primeira ao desenvolvimento de práticas que respeitem suas características e se prestem a fortalecê-las, em vez de sufocá-las em busca de padronização e uniformização, propósitos tão em voga no contexto presente.A respeito da visão desse ser criança,que deve ser o alvo das iniciativas e práticas efetuadas no âmbito da Educação Infantil, corroboro o pensamento da professora Suely Amaral Mello ao salientar que “Perceber a criança como um ser capaz e competente abre para ela o direito à igualdade de oportunidades, permite o acesso ao conhecimento e à cultura”, propósitos que, ao meu ver, devem nortear os fazeres nessa etapa inicial da Educação Básica.
Um segundo desafio decorrente da necessidade de consolidar a Educação Infantil no projeto de formação do curso de Pedagogia é o de nos educarmos – nós, os professores formadores – e de educarmos os nossos alunos, a partir de nossa própria compreensão, para entenderem a Educação Infantil como relevante etapa da Educação Básica, superando visões pouco esclarecidas e até preconceituosas que a veem como momento de menor importância na formação dos sujeitos, como etapa em que a criança vai para a instituição creche ou pré-escola apenas para ser assistida e cuidada. Nesse sentido, vejo como imprescindível, na formação docente que propiciamos, o fortalecimento da compreensão da Educação Infantil como etapa em que o cuidar, antes tido como objetivo precípuo do trabalho junto às crianças menores, e o educar, hoje encarado como elemento fundamental à formação desses sujeitos, estejam articulados, pressupondo um trabalho docente embasado na garantia de ambos os processos.
Quanto a isso, cabe reiterar, na formação que realizamos, a função crucial do professor de Educação Infantil, cujo status social ainda é o de um professor menos qualificado, de alguém que, por precisar “somente” acompanhar crianças pequenas, não precisa necessariamente ser capacitado para tal, uma vez que em muitos círculos ainda vigora a ideia de que “ter um jeitinho com crianças” basta para dar conta da função. Aqui, pontuo que este é mais um desafio, o terceiro, que precisamos enfrentar enquanto formadores de docentes para a Educação Infantil: desconstruir, junto àqueles que formamos, ideias errôneas e questionáveis que acabam por inviabilizar um envolvimento efetivo na docência nesse âmbito. Compreendendo o quão importante é essa etapa e a relevância de sua atuação nela, o futuro professor pode, ao meu ver, sentir-se impelido e motivado a interessar-se pelos desafios e, aproveitando-me do título dessa mesa, pelas paixões implicadas no ser professor na Educação Infantil.
A esse respeito, novamente trago o pensamento da estudiosa Suely Amaral Mello ao defender que, na Educação Infantil, é papel fundamental do adulto criar, de maneira intencional, um espaço provocador de experiências, no qual se valorize a atividade das crianças, acompanhe-seo seu processo de desenvolvimento e se criem vivências e experiências a serem realizadas, ativamente, por elas. Assim, a autora caracteriza o professor que atua nesse âmbito como um criador de mediações entre o mundo da criança e a cultura, característica que, defendo, deve ser construída sobre fundamentos sólidos, propiciados por uma formação docente inicial que discuta a Educação Infantil, suas características, dificuldades e possibilidades, e que, principalmente, seja capaz de fomentar, nesse professor, uma clara compreensão da relevância de sua atuação docente nesse âmbito.
A formação desse professor, por tais motivos, não deve prescindir da reflexão contumaz a respeito das implicações sociais e políticas do ser professor na Educação Infantil,o que encaro como mais um desafio decorrente da necessidade de consolidar a formação desse professor no projeto do curso de Pedagogia. Compreender essas implicações é, ao meu ver, caminho necessário ao engajamento do docente que formamos nas lutas e questões que historicamente têm marcado a busca pela consolidação dessa etapa da Educação Básica e pelo reconhecimento e valorização dos que nela atuam. Penso ser este o nosso desafio mais considerável, visto que, no momento atual, a profissão docente, e aí incluída a docência na Educação Infantil, é cada vez mais vilipendiada, alvo de constantes ataques que redundam na progressiva precarização do trabalho, no aviltamento salarial, na cobrança constante por resultados e produtividade, entre outros fatores. Nesse sentido, formar um professor politicamente consciente e apto a posicionar-se enquanto profissional da docência num contexto de tantas incertezas é requisito basilar dentro do projeto de formação docente que, desde 2009, com a inclusão da formação para a docência na Educação Infantil em nosso projeto pedagógico, vimos efetuando.
Os desafios, como apontado, são muitos, como também são vários – formadores e formandos – os que vêm, com afincoe compromisso – e por que não dizer, com paixão? –, enfrentando essa empreitada e buscando, cotidianamente, aprimorá-la, tomando por base o definido, em princípio, no projeto de curso definido em 2009. Inegavelmente, somos guiados, nesse processo,por crenças, concepções, opções teóricas e convicções políticas sobre as quais assentamos as iniciativas de formação que ora desenvolvemos, no intuito de dar conta do estabelecido, naquela ocasião, como objetivos primordiais de nosso curso: a construção coletiva da formação de docentes para atuarem, junto às classes trabalhadoras, na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental,  tendo como diretriz o compromisso social, ético, político e técnico do profissional da educação, e viabilizar discussões teóricas e metodológicas que possibilitem uma reflexão crítica e fundamentem ações nas políticas e nas práticas educativas relacionadas à Educação Infantil e aos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Há, nesse sentido, claros propósitos que nos norteiam nesse percurso formativo, o qual é pontuado, sem dúvidas, pelo que o título dessa mesa denomina de “paixões” e que eu compreendo e vou tratar como significativo interesse pela formação de um qualificado professor de Educação Infantil. Estar interessado nessa formação e, em decorrência, debruçar-se sobre ela, a fim de realizá-la a contento, é condição impreterível ao alcance dos objetivos que nos guiam cotidianamente, apesar das muitas circunstâncias adversas que intentam nos convencer de que é perda de tempo, de que de nada adiantará investir nessa formação e se inserir nela com interesse e compromisso.
É, então, tomando essa reflexão como base que eu vou encerrar essa fala voltando-me ao universo literário infantil, seara na qual também situo os meus interesses pela formação do professor para a Educação Infantil. Há uns dias, li um belo livro cujo conteúdo tem, ao meu ver, uma relação muito próxima com os desafios e paixões que nos guiam em nossas ações e escolhas em diferentes campos da vida. Por isso, ao ser convocada para fazer essa fala e ser informada do seu título, logo pensei em inserir nela a apresentação de “Nuno e as coisas incríveis”, que gostaria de ler para vocês agora.
(LEITURA DO LIVRO)
Como vimos, Nuno tinha extremo apreço pelo desenho, atividade que o motivava a se relacionar com o mundo e a expressá-lo com beleza e sensibilidade. Entretanto, como vimos também, enfrentou a incompreensão dos que, diferente dele, não valorizavam sua arte e até a ridicularizavam, fazendo com que pensasse em desistir de tudo, rasgando os seus desenhos e se fechando no recolhimento dos que desacreditam dos seus sonhos e objetivos. Refletindo, no entanto, sobre o que o motivava e dava prazer – desenhar –, o menino descobriu o valor de seus desenhos, sua capacidade de “riscar poesias” e de “libertar o que as palavras não conseguiam expressar”. Assim, descobriu também sua capacidade de fazer coisas incríveis.
Considerando, pois, o apresentado na narrativa e o foco da discussão dessa mesa de hoje –  Entre paixões e desafios: Ser professor(a) na Educação Infantil – e, no caso do norte a partir do qual guiei minha exposição, que foi o ser formador do(a) professor(a) da Educação Infantil, encerro conclamando sermos todos como Nuno, descobrindo-nos capazes de construir coisas incríveis e de, enfrentando os desafios e as paixões de atuar como professor da Educação Infantil ou como formador desse professor, fazermos de nossa atuação um caminho para construir o diferente e para transformar o que demanda ser mudado.

Obrigada por sua atenção!


Publicação de resenhas escritas por alunos na disciplina Análise e Produção de Textos Acadêmicos



A respeito da publicação, neste blog, de resenhas escritas por alunos na disciplina Análise e Produção de Textos Acadêmicos:


A disciplina Análise e Produção de Textos Acadêmicos é oferecida no segundo período do curso e objetiva, principalmente, abordar as características de distintos gêneros próprios do contexto acadêmico, entre eles a resenha, com o intuito de ensinar os alunos a reconhecê-los, lê-los e produzi-los.
No decorrer dessa disciplina, uma das discussões contempladas se refere à importância da produção de um texto ser motivada pelo atendimento a uma finalidade social que justifique o seu uso (leitura e produção), extrapolando a ideia corrente de que, na academia, só se produzem textos para se obterem notas e aprovação.
Nessa perspectiva, nesse semestre 2017.2, a sugestão de escrita de uma resenha acadêmica da obra “Professora, como é que se faz?”, organizada por Elizabeth Maria da Silva e publicada pela editora Bagagem, foi norteada por dois aspectos primordiais: 1) reforçar a reflexão acerca das características de gêneros acadêmicos já estudados pelos alunos, uma vez que essa é a tônica dos capítulos integrantes da obra, e 2) dar um sentido sociocomunicativo à produção textual, motivando-a pela possibilidade de publicação da resenha neste blog do PET-Pedagogia.
Sobre o segundo aspecto, cabe ressaltar que tal publicação concretiza uma característica fundamental do gênero em questão, que é avaliar e recomendar (ou não) a leitura de uma obra por possíveis leitores, fator que justifica a necessidade de a resenha estar acessível aos que, porventura, possam interessar-se pelo livro avaliado, no caso específico, os leitores deste blog.
Considerando que toda a turma da disciplina leu e resenhou um mesmo livro, não seria pertinente a publicação de todos os textos produzidos sobre ele, já que haveria muitas informações repetidas e a própria reiteração exaustiva da estrutura composicional do gênero, o que certamente enfastiaria e incomodaria os leitores, inviabilizando o propósito fundamental da produção de uma resenha acadêmica: fornecer aos leitores uma avaliação sobre uma obra, a fim de convencê-los a buscá-la e lê-la, ou a rejeitá-la.
Em virtude do exposto, a solução encontrada foi a constituição de uma comissão de professoras do curso que, convidadas a lerem e analisarem as resenhas, selecionassem duas que, após a atividade de reescrita, considerassem atender com maior adequação às características composicionais do gênero, ao mesmo tempo demonstrando uma autonomia autoral demarcada pela capacidade de avaliar, com argumentos e ponderações pertinentes, as características da obra.
A análise da comissão apontou, para essa publicação, as resenhas produzidas por Beatriz Guedes de Carvalho e Sara Lívia dos Santos Sousa, aqui publicadas. Espero que sua leitura permita conhecer, em linhas gerais, as características da obra em questão e que a descrição e a avaliação feitas pelas alunas a seu respeito possam motivá-los a buscá-la. Espero, sobretudo, que essa experiência possa revelar aos leitores deste blog o que o livro “Professora, como é que se faz?” salienta – que a escrita dos gêneros acadêmicos pode ser aprendida e que a academia é o lugar para fazê-lo – e que, além disso, possa motivar outras iniciativas de divulgação de textos produzidos por alunos e professores, constituindo o blog do PET-Pedagogia como um canal relevante de socialização do que é produzido pelos integrantes de nosso curso.



Professora Fabíola Cordeiro de Vasconcelos
Ministrante da disciplina Análise e Produção de Textos Acadêmicos no semestre 2017.2


CLIQUE NOS LINKS ABAIXO PARA TER ACESSO ÀS RESENHAS: