Ana Monteiro,
diretora da Faculdade da Educação da UFRJ, fala sobre a evolução da formação
docente e sobre a demanda urgente por qualificação.
Dados do Censo
da Educação Superior de 2009, divulgados em 2011, revelaram um aumento no
número de formados em cursos de licenciatura, aqueles destinados à formação de
professores para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. Em 2002, foram 133 mil
formandos e em 2009, 241 mil. Mas esses cursos de licenciatura formam bons
profissionais? De acordo com Ana Monteiro, diretora da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o governo ampliou o acesso à
educação, mas ainda precisa resolver outros problemas.
“Como formar professores
qualificados para atender a demanda, uma vez que os salários não são atrativos?
Os estudantes não querem ingressar em uma carreira que perdeu o prestígio, aí
se voltam para a área de pesquisa. A demanda por bons professores é urgente –
para trabalhar na escola de hoje, com o aluno de hoje. Parece que só o
cientista produz conhecimento, mas o professor também o faz, em outro contexto.
Ele não está em um laboratório, mas em uma escola, e trabalhar com a formação
de pessoas é um desafio muito complexo”, ressalta.
Para entender como funciona a licenciatura hoje, precisamos voltar ao passado.
O curso de formação de professores nasceu na antiga Universidade do Brasil,
atualmente UFRJ, na década de 30, na Faculdade de Filosofia. Em 1968, a Faculdade de
Filosofia deixou de exercer a função de formar professores, e se criou a
Faculdade de Educação, que passou a oferecer a formação de licenciatura, e os
institutos de ensino. A fórmula utilizada era a chamada “3 + 1” , com o aluno tendo três anos
de formação específica na área e um ano de formação pedagógica.
“O sistema de licenciatura criado na UFRJ acabou sendo copiado pelas outras universidades do país e formou uma geração de professores qualificados. Com o passar do tempo, o papel do professor e da escola foi mais e mais questionado. Percebemos também que a formação pedagógica precisava ser mais ampla. Em 2002, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou uma resolução mudando a fórmula do ‘3 + 1. O aluno já pode ingressar direto para fazer o curso de licenciatura, não é o bacharel que depois vai fazer a licenciatura. Acho que essa mudança é importante, porque valoriza a licenciatura e atende a demanda do futuro professor, que se sente mais preparado para a hora ‘h’ quando entrar na sala de aula. Muitos alunos reclamavam que não se sentiam prontos para lidar com crianças e jovens”, explica Ana.
Segundo a diretora, os cursos que já tem opção de licenciatura no vestibular são Química, Física, Matemática, Geografia, Educação Artística, Letras, História e Literatura. Após alguns períodos, os alunos podem optar pela licenciatura ou bacharelado. As disciplinas específicas de licenciatura são Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus, Didática, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Fundamentos Filosóficos da Educação e Prática de Ensino.
“O futuro professor começa a ter contato com os alunos quando faz a Prática de Ensino, uma espécie de estágio supervisionado por um professor. A prioridade é o que estágio seja feito em escolas públicas, eventualmente em colégios particulares. Em 2001, o governo determinou que o estágio deveria passar de 300 para 400 horas. Isso é importante para que a formação não seja aligeirada”, diz Ana.
De acordo com informações da Câmara de Educação Básica do CNE divulgadas em 2011, o Brasil tem um déficit de 300 mil professores, nas redes estaduais e municipais. A segunda licenciatura seria uma alternativa apontada por especialistas para minimizar esse problema, mas a diretora alerta que essa pode não ser a solução. “Muitos professores trabalham em vários lugares, porém, dar mais do que 40 horas de aula é muito complicado, acaba afetando a saúde. Eles não têm tempo para preparar as aulas, para estudar... O ideal é aumentar os salários, permitindo que os profissionais possam se dedicar exclusivamente à atividade docente", completa.
Postado por:
Jéssica Rodrigues de Queiroz e Bruna Sonaly Diniz Bernardino
Graduandas de Licenciatura em Pedagogia - UFCG
Bolsistas do Programa de Educação Tutorial - PET
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