Estudo desenvolvido na FFCLRP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Ribeirão Preto) da USP evidencia a distância de compreensão que
estudantes, com idade entre 15 e 18 anos, e professores da rede pública
têm das finalidades do uso da internet.
O autor da pesquisa, o psicólogo Fabiano Simões Corrêa, concluiu em
maio o mestrado "Um estudo qualitativo sobre as representações
utilizadas por professores e alunos para significar o uso da internet",
que levou três anos para ser desenvolvido. Mas, para o pesquisador, se o
levantamento fosse feito nos dias atuais, o resultado poderia ser
outro. A constatação é o reflexo da velocidade e do impacto que esse
"meio de comunicação" vem causando nas relações da sociedade.
Corrêa comenta que um aspecto interessante da aprendizagem para o aluno
é que quando você pergunta para ele qual a diferença de aprender na
escola e aprender na internet, e ele responde que na internet é tudo
muito rápido, muito direto. "Ele vai na informação de uma forma prática.
O aluno tem muito essa percepção, essa representação da internet, que
ela é um instrumento muito bom por ser direta e rápida."
Já os professores revelaram o lugar paradoxal em que se tornou o espaço
escolar. Há um lado de discurso hegemônico de que a escola deveria se
atualizar com a absorção das novas tecnologias da informação, mas que
carece de investimentos concretos, e da negatividade da internet que
rotula a utilização pelos alunos como "superficial".
O estudo foi realizado sob a orientação do professor Sérgio Kodato, e
teve o objetivo de contribuir com reflexões que auxiliem as práticas
pedagógicas e didáticas capazes de subsidiar políticas públicas de
inclusão digital, em instituições públicas de ensino. A pesquisa foi
feita em uma escola pública da cidade de Ribeirão Preto. No local, havia
mais de dois mil alunos, mas apenas 20 computadores para os estudantes e
salas de aula sem acesso à internet.
Certo medo da internet
Para Corrêa, o professor tem certo medo da internet, pois ninguém fala
muito bem para ele como deve utilizá-la. "O medo está neste aspecto. Não
acho que o professor tenha medo de ser substituído pela internet, o
medo é na verdade um sentimento de impotência de não estar muito claro
como é que se utiliza a internet na escola. Precisamos de mais pesquisa
nessa direção, para indicar os caminhos."
Segundo a pesquisa de Corrêa, na visão da maioria dos professores e
mesmo no senso comum escolar, o estudante fica somente dedicado às redes
sociais com coisas que são consideradas fúteis. Mas na prática, o uso
dessas ferramentas podem ser positivas. "O aluno usa de forma
predominante as redes sociais, mas por meio das redes ele consegue se
comunicar, muitas vezes produzir conhecimento, produzir relações
produtivas, divulgar o pensamento dele, se expressar politicamente,
ajudando a construir uma inteligência coletiva."
Observando a distância entre as visões do "estudante" e do "professor",
Corrêa destaca a reprodução do conflito entre os mundos dos adultos e
dos adolescentes. "Nós, os mais adultos, tendemos a olhar a utilização
da internet como superficial porque ela é diferente do que a gente
conhece", afirma. "Estávamos mais acostumados a nos relacionarmos com os
veículos de comunicação de massa como o rádio e a televisão e não temos
muitas vezes a capacidade de entender o que é esse fenômeno de
comunicação em rede que eles, adolescentes, estão fazendo."
Lembrando a velocidade com que os temas se multiplicam nas redes
sociais, o pesquisador sugere mais estudos sobre o tema. "Não podemos
ficar nesse viés do senso comum de que a internet aliena, de que não é
legal, é fútil", recomenda. "Vide o que aconteceu recentemente com as
manifestações que lotaram as ruas. Grande parte dessa força, dessas
manifestações foi graças à comunicação que aconteceu via internet, das
redes sociais. Acho que surpreendeu muita gente." Segundo o pesquisador,
"talvez hoje, se refizéssemos essa pesquisa, os resultados seriam um
pouco diferente, talvez isso já tenha mudado um pouco a representação
desse senso comum que a internet é algo fútil."
Postado por:
Elizângela França
Meryglaucia Azevedo
Meryglaucia Azevedo
Graduandas em Licenciatura em Pedagogia - UFCG
Bolsistas do Programa de Educação Tutorial - PET
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